Bernardo

"Bernardo é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe.
E vêm pousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho:
1 abridor de amanhecer
1 prego de farfalha
1 encolhedor de rios - e
1 esticador de horizontes.
(Bernardo consegue esticar o horizonte usando três fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.)

Bernardo desregula a natureza:
Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?)"

 "O livro das ignorãças" - Manoel de Barros

Esse senhor sorridente é o querido Manoel de Barros, um dos grandes poetas brasileitos que me encantou com sua forma adorável de escrever. Como dizem por aí, o mundo parece mais humano quando lemos este poeta pantaneiro. Nunca um poeta me agradou tanto como ele, por sua forma de escrever, que me faz rir, me faz sentir... me alegra. Postei esse poema não apenas pelo senhor Manoel, mas também por Bernardo, que como diz o meu pai "há estar ao lado de Deus, homem de alma boa", e sim, homem de alma pura, descrito pelo próprio amigo Manoel como tal. E esse poema conta um pouco da imensidão que era Bernardo, simples, de poucas palavras, com um brilho no olhar, com um coração que não cabia no peito. Bernardo conseguia a amizade de todos, até mesmo dos animais, que receio nenhum tinham de aproximar-se dele... Bernardo era paz, Bernardo era luz, Bernardo era anjo, e hoje continua a ser.
Procurei alguma foto dele por aqui mas não encontrei, mas é simples: imagine o amor, com cor de chocolate e brilho no olhar... magro, pequeno, chapéu de palha e com um "silêncio tão alto que os passarinhos ouvem de longe" e se achegam.